segunda-feira, 2 de maio de 2011

ARTIGO: Mais-valia ideológica

ARTIGO: Mais-valia ideológica
ELAINE TAVARES | Jornalista
 
     O pensador venezuelano Ludovico Silva desenvolveu um conceito perfeito para a televisão: mais-valia ideológica. Ele diz que o sistema capitalista, não satisfeito em sugar a mais-valia do trabalhador no seu local de trabalho, ainda suga a mais-valia ideológica quando ele pensa que está descansando diante de sua TV.Na verdade, diz Ludovico, a pessoa diante desse aparelho não está fruindo, curtindo ou descansando. Não! Está sendo inundada pelos apelos do sistema: compre isso, compre aquilo, siga as regras do Natal, seja assim, vista aquilo. Prisioneira, então, da mais-valia ideológica.
Pois, agora, a gente, que vive sob o terror do transporte coletivo de Florianópolis, tampouco consegue se desconectar da mais-valia ideológica. Não bastasse todo o estresse de ficar nas insuportáveis filas que se formam ao longo do caminho nestes dias de verão de uma cidade turística que não tem estrutura, ainda temos de aturar uma espécie de televisão dentro do ônibus. Ali, enquanto as gentes bufam de calor e ódio, ficam passando propagandas: compre isso, compre aquilo, tal pré-vestibular é melhor. Vez em quando entra uma notícia sobre algum famoso e depois uma "videocassetada". Um verdadeiro atentado à inteligência e à paciência. Pergunto-me: onde está o Ministério Público que não vê isso? Será possível que ninguém se importe que as pessoas sejam submetidas a esses abusos? O que pode fazer uma pessoa comum diante deste descalabro?
Tem mais: como o transporte é desintegrado, a gente fica muito tempo sentado nos terminais, esperando o terceiro ônibus que nos deixará em casa. E ali, por toda parte, estão as televisões com os quadros de horários. A gente fica olhando para ver quando vai sair o maldito ônibus e o quadro não vem. O que passam são propagandas e propagandas. Infernal. Mas não é desrespeito, não. É a mais-valia ideológica levada às últimas consequências. Uma verdadeira lavagem cerebral.
Outro dia, vi uma informação de que, em São Paulo, já existem grupos contra isso. Vou fazer a luta por aqui.

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